O primeiro dia de um emigrante de férias no seu país de origem é um misto de sensação de desconforto e sensação de lar, doce lar. Sentimo-nos observados, criticamos, elogiamos, comemos com saudades, dizemos mal das estradas. Sentimo-nos mal, nem somos daqui nem de lá, não sabemos onde querer pertencer, onde é a nossa casa, que vida viver. O segundo dia é de descompressão, começámos a ir ao café sem receio, sem a mania que todos olham para nós e vêem que somos emigras. O terceiro dia é normal, estamos e sentimo-nos bem, deixamo-nos mimar, mas ainda há desconfiança: será que está tudo igual, o que é que perdemos enquanto estivémos fora? Como reagir, o que dizer, que palavras e anedotas estão na moda, de que falarão por aqui?? Um vazio ainda causa névoa no nosso olhar. O vazio do tempo que perdemos, estando longe. O quarto dia é de paz, de à-vontade, de não querer ir embora, de grandes conversas e risos. Sim, é este, agora sim, é o meu país, o país que me aceita; tanto eu como o país demorámos a reconhecer-nos, mas agora sim, somos um do outro, Portugal é meu, já sou daqui, completamente, Espanha já não interessa, eu sou é daqui, quero viver aqui... Não quero ir embora, mas há uma casinha que ficou fechada, uma casinha pequena a 1300 km, que chama e diz: ainda não, só mais um bocadinho, un poquito más.
quinta-feira, agosto 05, 2004
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