Paseo de Gracia

quarta-feira, julho 28, 2004

Pobre da rua

Nunca se perguntaram se um pobre da rua foi sempre pobre, se teve uma casa algum dia, uma mãe e um pai a cuidar dele, uma mulher, filhos... Porque é que aquele homem velho a tremer, carrega com a casa às costas para onde vá, porque dorme sempre no mesmo sítio (porque escolheu este bairro para ser um sem-tecto). Porque não puxa as calças para cima, não repara que se vê as ceroulas? Será demente? Não fala. Em nenhuma ocasião. Não olha para cima, olha para o chão, sabe as horas e cumpre os seus horários, estrictos. Chego às 18:30 a casa e está a beber água na fonte. Se chego mais cedo esta a passar pela esplanada. Às 19 já esta preparado para dormir. De manhã não há rasto. Já se foi arrastando a sua casa. Há muitos, mas este vive na minha rua. É meu vizinho. Os outros dormem nas caixas mutibanco que os guardas não fecham. Tenho mais vizinhos, a de cima também só olha para o chão, não fala, mas deve estar proibida pelo marido, é árabe. Mas este é especial porque o vejo todos os dias e me faz pensar. Agora também vos fez pensar a vocês.