É muito trabalhoso mudar de casa. Se nunca passaste por isso, imagina como é. Agora multiplica por dez a dificuldade imaginada. Ok, já tens uma ideia daquilo por que passámos. Para piorar, não contratámos nenhuma furgoneta de mudanças. E nem a nossa anterior casa (um 3º andar), nem a nova (um 2º andar) têm elevador.
A casa não tinha nada, nadica. Ainda agora entro em casa e fico angustiada, parece uma feira! Sabem quando os ciganos espalham os casacos, calças, etc, tudo para o chão p'ra cima duma manta? Este é (ainda, depois de muita arrumação) o aspecto do nosso quarto.
Na primeira noite, o pânico... pensámos que não íamos pregar olho. Explico: temos duas esplanadas mesmo em baixo da janela do quarto. As ruas do bairro de barceloneta são muito estreitas, cada motocicleta que passa ecoa. Fomos tomar um café e vimos um grupo de árabes com aqueles lenços estranhos na cabeça, côr de laranja flourescente. De repente passa um gajo com uma cobra ao pescoço. Mais tarde passa um coitado, completamente drogado e a tremer, magro, cheio de feridas, e senta-se num banquinho de rua. Saca do seu cachimbo e toca a sugar a ver se sobrou alguma coisita. A verdade seja dita: as primeiras impressões do bairro deram-nos a volta ao estômago. Se ao menos a casa tivesse um sofazito... A noite foi atribulada. Às 4:57 da manhã acordámos com bastante ruído, intercomunicadores da polícia a funcionar, um tipo a queixar-se. Mesmo nos nossos narizes um emigrante dos países de leste estava a ser apreendido; pelo que deu para entender, por ter dado cabo dum carro. Tentou resistir mas a polícia impôs-se: "Callate, anda, ¡y no te pongas borde!, ¿he?, que nosotros sabemos como cuidarte...". Quando a confusão passou, começámos a ouvir camiões a passar. Normal. Às 6 da manhã descobrimos o que havia dentro dos camiões: peixe. É que vivemos ao lado do mercado. Porque é que descobrimos? Pela fúria louca das gaivotas esfomeadas. Passam a cem a hora no meio das ruas a guinchar desalmadamente, perseguindo os camiões!!! Completamente enlouquecidas com o cheiro a peixe que, por certo, também nos chega aos narizes se tivermos as janelas abertas...
Já sabíamos que os barcelonins deitam tudo o que é móveis, em bom ou mau estado, ao lixo. Aliás, já vivemos numa casa (a de Cerdanyola) cujos móveis da sala tinham vindo directamente do lixo. O que não suspeitávamos era que fôssemos encontrar exactamente aquilo de que necessitávamos no meio da porcaria. Temos um colchão emprestado. Faltáva-nos o estrado. Bastou uma vizitinha aos contentores mais próximos e... <>. Nesse dia não estavam. Mas no dia seguinte sim. Conclusão: temos uma caminha super fixe que arranjámos no lixo. Acham normal? E é daqueles estrados todos anatómicos, 200 euros no mínimo em lojas. Quando achávamos que já nos tinham acontecido coisas suficientemente surpreendentes, hoje, no meio de anúncios na internet de <>, aparece um <> Pelo sim pelo não, ligámos. Se fosse brincadeira logo veríamos. Não era brincadeira. Tem dois anos e é da Balay... Temos de o ir buscar na segunda feira e... é grátis. E assim Deus vai ajudando um casal nos seus inícios de vida, sem troquitos, mas bastante esforçados. E por falar em esforço, já arranjei um trabalho. Bem, arranjei uma coisita p'ra fazer enquanto não aparece nada melhor. Vou estar como hospedeira no centro de congresso do Fórum Barcelona 2004... Vou ver o Xanana, o Guterres, o Federico Mayor, a Angelina Jolie, entre outros. Com sorte sirvo-lhes café e dou-lhes uma palavrinha. Entretanto também sou finalista naquele trabalho de broker. Vou ter uma segunda entrevista com um Belga chamado Boy na segunda.
Ah! Apontem o meu novo número fixo: 933103883.
Até à próxima!!
A casa não tinha nada, nadica. Ainda agora entro em casa e fico angustiada, parece uma feira! Sabem quando os ciganos espalham os casacos, calças, etc, tudo para o chão p'ra cima duma manta? Este é (ainda, depois de muita arrumação) o aspecto do nosso quarto.
Na primeira noite, o pânico... pensámos que não íamos pregar olho. Explico: temos duas esplanadas mesmo em baixo da janela do quarto. As ruas do bairro de barceloneta são muito estreitas, cada motocicleta que passa ecoa. Fomos tomar um café e vimos um grupo de árabes com aqueles lenços estranhos na cabeça, côr de laranja flourescente. De repente passa um gajo com uma cobra ao pescoço. Mais tarde passa um coitado, completamente drogado e a tremer, magro, cheio de feridas, e senta-se num banquinho de rua. Saca do seu cachimbo e toca a sugar a ver se sobrou alguma coisita. A verdade seja dita: as primeiras impressões do bairro deram-nos a volta ao estômago. Se ao menos a casa tivesse um sofazito... A noite foi atribulada. Às 4:57 da manhã acordámos com bastante ruído, intercomunicadores da polícia a funcionar, um tipo a queixar-se. Mesmo nos nossos narizes um emigrante dos países de leste estava a ser apreendido; pelo que deu para entender, por ter dado cabo dum carro. Tentou resistir mas a polícia impôs-se: "Callate, anda, ¡y no te pongas borde!, ¿he?, que nosotros sabemos como cuidarte...". Quando a confusão passou, começámos a ouvir camiões a passar. Normal. Às 6 da manhã descobrimos o que havia dentro dos camiões: peixe. É que vivemos ao lado do mercado. Porque é que descobrimos? Pela fúria louca das gaivotas esfomeadas. Passam a cem a hora no meio das ruas a guinchar desalmadamente, perseguindo os camiões!!! Completamente enlouquecidas com o cheiro a peixe que, por certo, também nos chega aos narizes se tivermos as janelas abertas...
Já sabíamos que os barcelonins deitam tudo o que é móveis, em bom ou mau estado, ao lixo. Aliás, já vivemos numa casa (a de Cerdanyola) cujos móveis da sala tinham vindo directamente do lixo. O que não suspeitávamos era que fôssemos encontrar exactamente aquilo de que necessitávamos no meio da porcaria. Temos um colchão emprestado. Faltáva-nos o estrado. Bastou uma vizitinha aos contentores mais próximos e... <
Ah! Apontem o meu novo número fixo: 933103883.
Até à próxima!!