Paseo de Gracia

quinta-feira, dezembro 30, 2004

E tudo o tempo gelou...

Domingo foi o dia da volta a Barcelona. Custou-me muito desta vez, estive com um nó insuportável na garganta todo o percurso. São três dias de mimos concentrados para depois ficar privado de todos. Mas três dias em pleno. Não fosse o final do terceiro...
26 de Dezembro, saímos do Porto às 11, um pouco tarde sim, mas lá fomos. Disse, a brincar, ao meu pai, à saída: "Vamos lá ver se vemos neve!". A brincar... Pelo caminho os graus iam descendo até chegar ao -2. Em Peñafiel começou a nevar muito pouquinho, e eu toda contente. O Miguel, sério. Depois começou a nevar cada vez mais... e mais! Começámos a ver acidentes pelo caminho, marcas de saídas de carros para as bermas, e aquilo começou a cheirar-me mal, queria parar e esperar que acalmasse, mas o Miguel achou que era melhor continuar. Achou isso até, 5 minutos mais tarde, vermos um acidente no meio da estrada, o Miguel trava, o carro não obedece, o coração dispara... e o ABS também, felizmente. Ok, temos mesmo de parar, era o único pensamento quando, já sem practicamente nenhuma visão, a 30 à hora e a morrermos de medo de levar com um camião em cima, parámos numa fila... durante uma hora. - 6 graus. Sai um tipo impaciente do carro da frente e pede-nos para fazer marcha atrás. Ok, aproveitamos e saímos também da estrada, para encher o depósito na bomba de gasolina que dificilmente avistávamos. Ficámos a saber, nessa bomba, que as estradas estavam todas (TODAS) cortadas e que o temporal estava a piorar. Dirigimo-nos ao pueblo, uma pequena cidade chamada Aranda del Duero, a 200 km de Sória. Tivémos muita, muita sorte em pararmos na tal fila ao lado de um pueblo, podíamos ter ficado, como muito boa gente, no carro-iglô, perdidos numa estrada, literalmente a morrer de frio (houve 2 mortes por hipotermia). Prenoitámos num colégio que tinha sido habilitado pelo exército e pela protecção civil para servir de albergue improvisado. Os hotéis, esses, estavam completamente cheios. Durante a má noite que passámos, sentados e com a cabeça apoiada nos braços, numa mesa (já só haviam colchões para as crianças quando chegámos), foram chegando famílias inteiras que tinham deixado os carros no meio da neve e tinham sido resgatados pela guarda civil. Parecia um refúgio de guerra, pessoas a dormir nos corredores, com cães e tudo, pessoas de todas as nacionalidades e "status". Havia comida, mas nós vinhamos prevenidos. "Acordámos" às 9 e fomos procurar um sítio que vendesse correntes para os pneus, porque só assim se podia circular em alguns sítios. Estava sol, o que nos deu optimismo. Foi um pavor andar sobre placas de gelo com as minhas botinhas urbanas, caí duas vezes e gelaram-me tanto os pés que me doía já o corpo todo, mas lá encontrámos o super mercado. Quando chegámos as correntes estavam já a esgotar, conseguimos as nossas por milagre. Não foram necessárias, porque os limpa-neves finalmente entraram em acção. Só paramos de ver neve em Zaragoza. Espanha não está preparada para estes temporais, o país pára. Se fosse na Alemanha, Suécia, era normal, o país avançava normalmente, um pouco mais lento, mas avançava. Aqui, um caos total, nenhum aviso, nenhuma preparação...

Este vai ser provavelmente o último post de 2004, o meu ano, o ano do macaco, termina. Começa o ano do galo. Esperemos cantar de galo em 2005. Boas entradas para os meus leitores!!! Até para o ano!