Paseo de Gracia

domingo, março 14, 2004

Sinto medo.
Subo para o comboio e, como sempre, muitos marroquinos, indianos, tunisinos, etc., a falar alto, com os olhos esbugalhados. Sinto-me mal por me sentir mal, desconfortável à beira deles. Respiro fundo. Depois olho para eles. Cada um leva uma mochila. Nunca tinha reparado nisto, mas vão dezenas de pessoas de raça árabe no mesmo comboio que eu. Às 7 e 50 da manhã, em comboios de "cercanias", iguaizinhos à queles que explodiram.
Vivo num clima de medo, chocada. Quero, mais do que nunca, voltar para o meu país.
Dá-me nojo pensar que neste mundo onde vivo e onde vão viver os meus filhos possa haver esta linha tão minúscula entre o bem e o mal, entre a morte e a vida, entre a normalidade e a violência sem medida.
Medo, raiva e insegurança - é isto que espelha o olhar dos que cá vivem.
Estive na manifestação de sexta, no meio de 1 milhão e meio de pessoas de 28 nacionalidades diferentes. Muito emocionante. Mas mais emocionante foram os 15 minutos de paragem e silêncio total. Barcelona parada. Nem as gaivotas piavam. E um aplauso multitudinário.
Porquê? Queria conhecer um desses terroristas e perguntar-lhe porquê. Ele reage por impulso, é desprovido de razão, e talvez, se eu lhe explicasse tudo com a minha sensibilidade típica, ele sentiria vergonha pelo que fez. E isso era a maior vitória, que um assassino como ele se envergonhasse e não tivesse vontade de repetir. Que um homem como esse desse valor à vida dele e dos outros. Falam de vingança. Dizem: "se vocês podem ir à nossa terra matar as nossas mulheres e os nossos filhos, porque não podemos ir à vossa e fazer o mesmo?". Dizem coisas ainda mais arrepiantes: "vocês querem a vida, nós queremos a morte!". Porque não fizeram um atentado ao Aznar e ficavam por aí? Porque têm sede de mortes inocentes? O Aznar não deseja matar inocentes, infelizmente acontece porque tem a mania de se meter onde o povo não o quer. Mas não vai lá de propósito pôr bombas em infantários!
Acho que estes homens assassinos ficam sem saber distinguir, o ódio cega. Como o amor, o amor também cega.
Hoje são as eleições. Vamos lá ver se isto abalou o PP. Ou se as 7.000 pessoas que gritavam ontem, às 2 da manhã, "asesinos" (um pouco forte, não?) em frente à sede do PP em Madrid são as mesmas do "no a la guerra" e do "nunca mais", e se, mesmo juntas e de volumes elevados, nao conseguem derrubar o governo do bigode.
Tenho medo. Preciso de muitos abraços.
Vou continuar a apanhar o comboio com medo.
Basta ya!